Com a chegada de mais um feriado prolongado, a Rua do Telégrafo, em Porto Seguro, voltou a ser palco de cenas caóticas que já viraram rotina em períodos de alta temporada. O motivo? O estacionamento desordenado de ônibus de turismo rodoviário, a falta de fiscalização eficiente e um rastro de lixo, desrespeito às normas e impactos negativos na imagem da cidade.
As críticas têm sido cada vez mais recorrentes por parte de moradores e empresários locais. Em grupos de mensagens, os relatos indignados se multiplicam: “Baderna sem fim”, “Cadê a administração da cidade?”, “Estacionam nas placas proibitivas e não são autuados”, “Verdadeiro lixão só para não pagar uma mísera caçamba”. O desabafo resume a insatisfação de quem vive e tenta empreender numa cidade onde o turismo deveria ser sinônimo de organização e valorização local.
Para muitos, o modelo atual de turismo rodoviário, que traz visitantes em ônibus fretados com pacotes de baixo custo e infraestrutura improvisada, gera uma ocupação desordenada que sobrecarrega os serviços públicos, degrada o espaço urbano e pouco contribui para a economia real da cidade. Os turistas chegam com tudo incluso – desde a comida até a água mineral – e saem deixando acúmulo de lixo e pressão sobre a mobilidade urbana, sem consumir ou valorizar o comércio local de forma significativa.
Uma Crítica do Setor Hoteleiro
Vinícius Brandão, empresário da hotelaria, presidente da CDL de Porto Seguro e diretor da ABIH Bahia, foi enfático em sua crítica:
"Os hoteleiros que dependem do rodoviário, de modo geral, são aqueles que não investem um centavo pra captar clientes nas feiras e eventos. O rodoviário atual até a água traz de casa. Está na hora de ficarmos sem rodoviário mesmo. Só deixam lixo na cidade. Sou contra e falo mesmo."
A fala provocou reações, mas também acendeu um debate importante: o modelo rodoviário de turismo, quando não regulamentado com rigor, representa mais um problema do que uma solução.
Infraestrutura Sobrecarregada, Lixo Acumulado e Fiscalização Ausente
Enquanto os ônibus ocupam ruas inteiras, muitas vezes ignorando placas de proibição, os moradores enfrentam dificuldades de locomoção, falta de segurança no trânsito e uma cidade que parece abandonada à própria sorte. O apelo por maior atuação da fiscalização, especialmente da PORTRAN (órgão municipal de transporte e trânsito), é constante: “Cadê o povo da Portran?”, questionou uma moradora.
Além disso, a ausência de políticas públicas que regulem o turismo de massa e responsabilizem os organizadores de excursões pelo descarte correto de resíduos transforma áreas residenciais em verdadeiros lixões a céu aberto.
Turismo Sustentável em Xeque
A discussão vai além da mera logística urbana. Ela expõe a necessidade urgente de se repensar o turismo de forma estratégica e sustentável. Cidades como Porto Seguro não podem continuar aceitando o crescimento quantitativo do turismo às custas da qualidade de vida da população local e da imagem da cidade.
Oportunidade de Mudança
Enquanto alguns defendem que o turismo rodoviário movimenta o comércio e lota os hotéis, outros argumentam que a dependência desse modelo freia o crescimento qualitativo do setor. A saída, segundo especialistas e empresários engajados, está na diversificação da matriz turística, investimento em turismo de base aérea, capacitação profissional, participação em feiras especializadas e atração de um perfil de visitante que valorize a cultura local, os serviços formais e o consumo responsável.
A cidade precisa decidir: continuará refém de um modelo ultrapassado e predatório, ou investirá em uma nova fase de desenvolvimento turístico, mais organizada, limpa e lucrativa para todos?
Fica o alerta: feriados continuarão a ser sinônimo de “cidade cheia”, mas não podem mais ser sinônimo de caos.
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