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Desigualdade Socioambiental e Mudanças Climáticas

Um Desafio Global Interconectado

Desigualdade Socioambiental e Mudanças Climáticas
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As mudanças climáticas e a desigualdade socioambiental são dois dos maiores desafios enfrentados pelo Brasil, um país de dimensões continentais e uma das maiores biodiversidades do planeta. Esses problemas, embora frequentemente tratados de
forma separada, estão profundamente interligados, reforçando-se mutuamente e expondo as vulnerabilidades das populações mais pobres e marginalizadas. Enquanto o mundo enfrenta transformações climáticas sem precedentes, o Brasil vive uma realidade onde a injustiça socioambiental se manifesta de forma clara e preocupante.

A desigualdade socioambiental no Brasil refere-se à distribuição desigual dos recursos naturais, dos benefícios ambientais e dos impactos negativos da degradação do meio ambiente. Enquanto uma pequena parcela da população usufrui de riquezas geradas pela exploração de recursos naturais, comunidades tradicionais, indígenas e periféricas sofrem diretamente com os efeitos da destruição de ecossistemas e das mudanças climáticas. Um exemplo emblemático é a Amazônia, onde o avanço do desmatamento, impulsionado pelo agronegócio e pela mineração ilegal, não só contribui para o aquecimento global, mas também desestrutura o modo de vida de povos indígenas e
ribeirinhos, que dependem da floresta para sua sobrevivência.
As mudanças climáticas exacerbam essas desigualdades. No Nordeste brasileiro, por exemplo, a seca prolongada e a desertificação afetam diretamente pequenos agricultores, que já vivem em condições precárias. A falta de água para consumo humano e para a agricultura familiar aumenta a insegurança alimentar e força migrações em massa para áreas urbanas, onde essas populações enfrentam novas formas de
exclusão social. Enquanto isso, grandes proprietários de terra na mesma região conseguem se adaptar melhor, utilizando tecnologias de irrigação e acesso a mercados globais, o que evidencia a disparidade no acesso a recursos e oportunidades.

Outro exemplo é o das comunidades urbanas periféricas, que sofrem com enchentes e deslizamentos de terra agravados pelas mudanças climáticas. Os grandes centros urbanos as áreas mais afetadas por esses desastres são justamente as favelas, onde a falta de infraestrutura adequada e de planejamento urbano aumenta a vulnerabilidade das populações. Em 2023, por exemplo, as chuvas intensas no litoral norte de São Paulo causaram tragédias que atingiram principalmente comunidades pobres, enquanto bairros ricos, com melhor infraestrutura, foram menos impactados.

A injustiça climática também se reflete no acesso desigual a políticas públicas e tecnologias de mitigação e adaptação. Enquanto grandes empresas do agronegócio recebem subsídios e incentivos para expandir suas atividades, muitas vezes em detrimento do meio ambiente, pequenos agricultores e comunidades tradicionais lutam por apoio técnico e financeiro para implementar práticas sustentáveis. Além disso,
projetos de energia renovável, como usinas eólicas e solares, nem sempre beneficiam as comunidades locais, que continuam sem acesso a energia limpa e a preços acessíveis.

A justiça climática é, portanto, um conceito fundamental para enfrentar esses desafios no Brasil. Isso significa reconhecer que as populações mais vulneráveis, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e moradores de periferias urbanas, devem estar no centro das políticas de combate às mudanças climáticas. Um exemplo positivo é o protagonismo dos povos indígenas na preservação da Amazônia: territórios indígenas são as áreas mais preservadas da floresta, comprovando que a garantia de seus direitos é essencial para a conservação ambiental.

No entanto, o Brasil ainda enfrenta grandes obstáculos para alcançar a justiça socioambiental. O desmonte de políticas ambientais, o enfraquecimento de órgãos de fiscalização e o aumento da violência contra defensores do meio ambiente são sinais alarmantes. Em 2022, o país foi um dos mais perigosos para ativistas ambientais, com casos como o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips na
Amazônia.

Para construir um futuro sustentável e justo, é urgente adotar uma abordagem integrada que combine a proteção ambiental com a redução das desigualdades sociais. Isso inclui fortalecer políticas de conservação, garantir o cumprimento dos direitos territoriais de comunidades tradicionais, investir em infraestrutura resiliente nas periferias urbanas e promover a transição para uma economia de baixo carbono. Além disso, é essencial envolver as comunidades locais na tomada de decisões, valorizando seus conhecimentos e práticas sustentáveis.

O Brasil tem um papel crucial no combate às mudanças climáticas globais, mas também tem a responsabilidade de enfrentar as desigualdades socioambientais dentro de seu próprio território. A luta por justiça climática e social não é apenas uma questão de sobrevivência, mas de dignidade e respeito aos direitos humanos. O tempo de agir é agora, e o caminho a seguir deve ser guiado pela equidade, pela inclusão e pelo
compromisso com as gerações presentes e futuras.

Por Nay Souza
Bióloga | Doutora em Ecologia e Conservação da Biodiversidade
CEO da Ambient See | Especialista em Gestão Ambiental ESG
Diretora de Comunicação do Instituto Nautilus de Pesquisa e Conservação

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