A mobilidade urbana na Orla Norte e bairros adjacentes chegou a um ponto crítico. Moradores, trabalhadores e estudantes denunciam um cenário de completo descaso por parte da empresa responsável pelas linhas de ônibus T200 e T210, essenciais para a região mais populosa e turística da cidade. As queixas incluem descumprimento sistemático da tabela oficial, atrasos que superam uma hora e, em casos extremos, motoristas que se recusam a parar para passageiros sozinhos, principalmente à noite e nos finais de semana.
Tabela Oficial Vira 'Peça Decorativa'
A tabela de horários, afixada nos terminais e divulgada como compromisso da empresa, prevê viagens regulares das 05h00 à 00h20. No entanto, na prática, essa programação não é respeitada.
As linhas T200 e T210, que deveriam operar com regularidade de 20 em 20 minutos, especialmente aos domingos (conforme a tabela, com saídas até 23:35), têm deixado passageiros completamente abandonados.
Domingo de Caos: Seis Horários Não Operados
O ápice do problema foi registrado no último domingo (23), quando uma sequência de seis horários consecutivos simplesmente não foi realizada. De acordo com denúncias verificadas pela reportagem, os ônibus previstos entre 9h00 e 10h40 (9h00, 9h20, 9h40, 10h00, 10h20 e 10h40) não partiram do terminal nem passaram pelos pontos intermediários.
“Eu cheguei 8h55. Fiquei esperando até quase 10h40. Nenhum ônibus desceu. Tinha gente chorando, gente desesperada sem poder avisar no trabalho porque o celular ficou sem bateria”, relatou uma passageira que aguardava no ponto do Anel Viário.
O atraso de até 1h20 prendeu trabalhadores no terminal, gerando perdas de expediente e deixando passageiros sem informação e sem alternativa.
Motoristas Ignoram Passageiros Solitários
Outra denúncia grave é o comportamento de motoristas que se recusam a parar nos pontos quando avistam apenas um passageiro, um problema recorrente nos trechos entre Gaúcho, Taperapuan e Mutary.
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Motoristas aceleram ao ver uma pessoa sozinha.
Há relatos de que desligam a luz interna para passar despercebidos.
Passageiros ficam expostos ao risco de assaltos e intempéries, como a chuva.
Um trabalhador noturno desabafou: “O ônibus passou vazio. Eu levantei o braço, gritei, quase me joguei na frente. Ele acelerou e foi embora. Fiquei sozinho na chuva, sem alternativa.” Moradores suspeitam que a pressa em encerrar o turno ou a baixa demanda isolada motivam a atitude desumana.
Desvios Ilegais por “Demanda”
Relatos de usuários e até mesmo de funcionários da viação indicam que a empresa está operando por “demanda”, em vez de seguir os horários programados e itinerários fixos.
Essa prática ilegal leva ao desvio de linhas. Ônibus que deveriam atender à Orla Norte são redirecionados para bairros como Vila Jardim ou Mirante quando há um maior número de passageiros esperando em outra direção. Um episódio no domingo confirmou que um ônibus destinado à Orla foi desviado por “ter mais gente” em outra rota, abandonando os passageiros que esperavam.
A tabela pública de horários é um compromisso contratual de concessão e seu descumprimento configura uma ilegalidade.
Consequências: Violações e Risco à População
O colapso no serviço de transporte não é apenas um incômodo, mas uma série de violações graves dos direitos do consumidor e do contrato de concessão:
Interrupção de Serviço Essencial: Violação do Art. 22 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que garante continuidade, eficiência e segurança no transporte.
Publicidade Enganosa: A divulgação de horários que não são cumpridos fere os Art. 30 e 31 do CDC.
Risco à Integridade Física: Abandonar passageiros em pontos escuros, sozinhos e à noite, especialmente na chuva, expõe a população a perigos reais.
Dano Moral Coletivo: A precariedade afeta centenas de trabalhadores que dependem da regularidade do serviço para não perderem seus empregos.
Falsidade Contratual: A empresa recebe subsídios e concessão para cumprir horários que comprovadamente não opera.
População Pede Providências Imediatas
A população da Orla Norte está unida na cobrança por ações imediatas das autoridades:
Fiscalização e Auditoria imediata da Prefeitura e da Secretaria de Trânsito nos horários reais de operação.
Aumento da frota no período noturno e aos finais de semana.
Cumprimento integral da grade oficial.
Revisão ou Cassação da concessão da linha, caso o descumprimento persista.
“Se continuar assim, alguém ainda vai ser assaltado, agredido ou perder o emprego por causa desse descaso”, alertou um morador. A Orla Norte, motor econômico de Porto Seguro, encontra-se sem um serviço de transporte minimamente confiável.
A reportagem seguirá acompanhando o caso e buscará um posicionamento oficial da empresa e das autoridades responsáveis pela fiscalização.

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