A viúva de Ronildo Alves dos Santos, o Magrelo, apontado pela Polícia Federal (PF) como um líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), assumiu os negócios do companheiro depois que ele foi morto em uma suposta troca de tiros com a Polícia Militar, em maio do ano passado, no Tocantins.
A informação consta em uma investigação da PF sobre o planejamento de um mega assalto frustrado que teve como alvo cerca e R$ 30 milhões guardados em um cofre da empresa de transporte de valores Brinks, em abril do ano passado, na cidade de Confresa, no Mato Grosso.
A ação criminosa seria feita por meio da prática conhecida como Novo Cangaço, quando uma quadrilha toma o controle de uma pequena cidade para praticar um grande assalto. Magrelo e mais 17 suspeitos morreram em supostas trocas de tiro, com a polícia, nas semanas posteriores à empreitada criminosa mal sucedida.
“Viúva e comparsa”
A investigação da PF afirma que Karen Abreu dos Santos (foto em destaque) “não é só viúva” de Magrelo, mas também sua “comparsa e integrante do PCC”. Desde 2018, ela posta fotos nas redes sociais, ao lado do chefão do crime, com quem teve um filho.
Investigadores checaram, com testemunhas, que Karen herdou o “patrimônio ilícito” de Magrelo e assumiu um posto de liderança na organização criminosa.
Ela, ainda de acordo com a PF, é vista “frequentemente” em contato com membros do PCC. Além disso, Karen usa as redes sociais para compartilhar fotos ostentando carros e motos de luxo, os quais, segundo a polícia, são adquiridos pelos lucros do crime.
Os perfis de Karen não são públicos. Em um deles, único com acesso livre, ela se apresenta como esteticista, destoando dos registros compartilhados, de forma restrita, nas suas contas privadas. Isso é destacado pela PF no relatório.
“Tudo indica que Karen Abreu dos Santos assumiu a função de Ronildo [Magrelo] no PCC, além de continuar se beneficiando do proveito do crime deixado pelo seu ex-marido”, destaque trecho da investigação.
Novo Cangaço
O PCC planejou, organizou e financiou uma mega tentativa de assalto, a uma transportadora de valores, em abril do ano passado no Mato Grosso. Ao todo, 18 suspeitos foram mortos, entre eles Magrelo, e nenhum centavo levado pela quadrilha.
A investigação o aponta como a liderança da facção paulista responsável em cooptar e organizar criminosos para o roubo, que pretendia levar R$ 30 milhões dos cofres da empresa Brinks.
Chamadas de Novo Cangaço, essas empreitadas são feitas pelo PCC para levantar recursos financeiros em situações de crise, quando a facção sofre grandes prejuízos financeiros com apreensões de cargas de drogas pela polícia.
Para a tentativa de assalto no Mato Grosso, o PCC movimentou R$ 2 milhões na conta de Magrelo. Ele acabou morto cerca de um mês após o crime, em um suposto confronto com a polícia, em uma estrada rural na região de Pium (TO). Com ele, a Polícia Militar (PM) afirmou ter encontrado um fuzil calibre 762, armamento usado em guerra.
“Domínio de cidades”
A empreitada atribuída a Magrelo é chamada pela PF de “domínio de cidades”, ação mais perigosa e planejada do Novo Cangaço.
Prova disso é que a quadrilha alugou imóveis, no estado do Pará, cerca de 15 dias antes do ataque à transportadora no Mato Grosso, ocorrido em 9 de abril do ano passado. Na ocasião, os criminosos, fortemente armados, chegaram à Confresa, onde se dividiram.
Parte do bando foi até a uma base da PM, que foi alvo de tiros. Os bandidos também conseguiram impedir a transmissão de câmeras de segurança e a comunicação policial, após destruírem transformadores de energia.
A sede da Brinks foi atacada em seguida. Os bandidos tentaram acessar o cofre usando explosivos, sem sucesso. Durante a fuga, os criminosos promoveram uma onda de terror na região, dando tiros nas ruas.
Cerca de 350 policiais, de cinco estados, foram mobilizados para “caçar” a quadrilha. Até 17 de maio, quando as ações foram desmobilizadas, o saldo de mortos era de 18.
Investimento milionário
Em um relatório de inteligência financeira, a PF identificou 19 comunicações de transações “atípicas” na conta de Magrelo, em pouco mais de um ano. Em cerca de seis meses, no período que antecedeu o ataque à base de valores da Brinks, Magrelo movimentou R$ 1,9 milhão em sua conta corrente.
“Essas operações foram consideradas incompatíveis com o patrimônio a capacidade financeira dele, tendo em vista que declarou uma renda mensal de R$ 4.290,00”, destacou a PF.
O dinheiro foi repassado por meio de dois laranjas, também investigados pela PF e cujas contas bancárias movimentaram, juntas, cerca de R$ 10 milhões. Um desses laranjas, inclusive, recebia benefícios assistenciais do governo.
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